Descobri-me livre...


Poema de Van Gogh

Vagando outro dia, na lua de uma noite fria,
eu conheci um estranho, um homem,
um filho da rua, um homem feito nós.

Caminhando por entre faróis,
parei pra pensar em flores,
parei pra gritar as dores
de amores mortos atrás.

Viajando por parques escuros,
parei pra pixar em muros
canções de alguém cantar.

Vagando um outro dia,
no frio de uma lua cheia,
toquei o corpo de um estrangeiro,
de um homem sem cheiro,
feito água de um ribeiro.

Falando ao seu ouvido,
julguei não estar atento
e caminhei em direção a sóis,
falando só.

Percorrendo países, cidades e mundos,
cheguei ao campo de girassóis.

Extasiado diante dos nós
sabendo não estar só,
andando por entre amarelo,
toquei em tinta de outra cor.

Vivendo na profusão do criador,
pude enxergar a mão do pintor.

Descobri-me então como parte da criação.

Descobri-me livre pra colorir uma emoção.

Saltei ileso como um nascituro feliz
pra viver o sonho de ser tinta,
de procurar ser aprendiz.



Dreams . Akira Kurosawa 
1990



Um abraço pro Macaco...

Não se preocupe...


Don't Worry Be Happy

Bob Mc Ferrin


Here's a little song I wrote,
You might want to sing it note for note,
Don't worry, be happy

In every life we have some trouble,
When you worry you make it double
Don't worry, be happy

Don't worry be happy now
Don't worry be happy
Don't worry be happy
Don't worry be happy
Don't worry be happy
Ain´t got no place to lay your head,
Somebody came and took your bed,
Don't worry, be happy

The landlord say your rent is late,
He may have to litigate,
Don't worry (small laugh) be happy,

Look at me I´m happy,
Don't worry, be happy

I give you my phone number,
When you worried, call me,
I make you happy

Don't worry, be happy

Ain't got no cash, aint got no style,
Ain't got no girl to make you smile
But don't worry, be happy

Cause when you worry, your face will frown,
And that will bring everybody down,
So don't worry, be happy

Don't worry, be happy now...

Don't worry, be happy
Don't worry, be happy
Don't worry, be happy
Don't worry, be happy

Now there this song I wrote
I hope you learned it note for note
Like good little children

Don't  worry be happy

Listen to what I say
In your life expect some trouble
When you worry you make it double
Don't  worry be happy
Be happy now

Don't worry, be happy
Don't worry, be happy
Don't worry, be happy
Don't worry, be happy
Don't worry
Don't worry be happy
Don't worry, don't worry, don't do it,
Be happy, put a smile on your face,
Don't bring everybody down like this

Don't worry, it will soon pass whatever it is,
Don't worry, be happy,
I'm not worried

Não Se Preocupe, Seja Feliz

Bob Mc Ferrin

Aqui está uma pequena canção que eu escrevi
Você pode querer cantá-la nota por nota
Não se preocupe, seja feliz

Durante toda a vida nós temos algumas dificuldades
Quando você se preocupa, você a faz dobrar
Não se preocupe, seja feliz

Não se preocupe, seja feliz agora
Não se preocupe, seja feliz
Não se preocupe, seja feliz
Não se preocupe, seja feliz
Não se preocupe, seja feliz
Ainda que não tenha um lugar para por sua cabeça
Porque alguém veio e levou sua cama
Não se preocupe, seja feliz

O proprietário diz que seu aluguel está atrasado
Ele pode exigir a liquidação
Não se preocupe (pequeno riso) seja feliz

Olhe para mim. Eu estou feliz.
Não se preocupe, seja feliz

Eu lhe dou o meu número de telefone
Quando você estiver preocupado, me chame
Eu faço você feliz

Não se preocupe, seja feliz

Ainda que você não tenha dinheiro, ainda que não tenha nenhum estilo
Ainda que nenhuma garota lhe dê um sorriso
Não se preocupe, seja feliz

Quando você se preocupa, seu rosto fica carrancudo
E isso derruba todo mundo
Assim, não se preocupe, seja feliz

Não se preocupe, seja feliz agora

Não se preocupe, seja feliz
Não se preocupe, seja feliz
Não se preocupe, seja feliz
Não se preocupe, seja feliz

Agora, essa canção que eu escrevi
Espero que você a tenha aprendido nota por nota
Como boas crianças

Não se preocupe, seja feliz

Escute o que lhe digo
Em sua vida, espere alguma dificuldade
Quando você se preocupa, você a faz dobrar
Não se preocupe, seja feliz
Seja feliz agora

Não se preocupe, seja feliz
Não se preocupe, seja feliz
Não se preocupe, seja feliz
Não se preocupe, seja feliz
Não se preocupe
Não se preocupe, seja feliz
Não se preocupe, não se preocupe, não faça isso
Não se preocupe, ponha um sorriso em seu rosto
Não derrube todo mundo com seu baixo astral

Não se preocupe, tudo o que é ruim passa logo
Não se preocupe, seja feliz
Eu não estou preocupado.

Você acha que um homem pode mudar seu destino?


_”Você acha que um homem pode mudar seu destino?
_Eu acho que um homem faz o que pode... até que seu destino lhe seja revelado."

_”You believe a man can change his destiny?
_I think a man does what he can… until his destiny is revealed to him.

Dirigido por/Directed by Edward Zwick



Credo do Samurai

Autor desconhecido
Século XIV

Eu não tenho pais,
faço do céu e da terra meus país.

Eu não tenho casa,
faço do mundo minha casa.

Eu não tenho poder divino,
faço da honestidade meu poder divino.

Eu não tenho pretensões,
faço da minha disciplina minha pretensão.

Eu não tenho poderes mágicos,
faço da personalidade meus poderes mágicos.

Eu não tenho vida ou morte,
faço das duas uma, tenho vida e morte.

Eu não tenho visão,
faço da luz do trovão a minha visão.

Eu não tenho audição,
faço da sensibilidade meus ouvidos.

Eu não tenho língua,
faço da prontidão minha língua.

Eu não tenho leis,
faço da auto-defesa minha lei.

Eu não tenho estratégia,
faço do direito de matar e do direito de salvar vidas minha estratégia.

Eu não tenho projetos,
faço do apego às oportunidades meus projetos.

Eu não tenho princípios,
faço da adaptação a todas as circunstâncias meu princípio.

Eu não tenho táticas,
faço da escassez e da abundância minha tática.

Eu não tenho talentos,
faço da minha imaginação meus talentos.

Eu não tenho amigos,
faço da minha mente minha única amiga.

Eu não tenho inimigos,
aço do descuido meu inimigo.

Eu não tenho armadura,
faço da benevolência minha armadura.

Eu não tenho castelo,
faço do caráter meu castelo.

Eu não tenho espada,
faço da perseverança minha espada.

A warrior's creed
Anonymous samurai song
14th century

I have no parents:
I make the heaven and earth my parents.

I have no home:
I make awareness my home.

I have no life and death:
I make the tides of breathing my life and death.

I have no divine powers:
I make honesty my divine power.

I have no means:
I make understanding my means.

I have no secrets:
I make character my secret.

I have no body:
I make endurance my body.

I have no eyes:
I make the flash of lightening my eyes.

I have no ears:
I make sensibility my ears.

I have no limbs:
I make promptness my limbs.

I have no strategy:
I make "unshadowed by thought" my strategy.

I have no design:
I make "seizing opportunity by the forelock" my design.

I have no miracles:
I make right action my miracle.

I have no principles:
I make adaptability to all circumstances my principle.

I have no tactics:
I make emptiness and fullness my tactics.

I have no talent:
I make ready wit my talent.

I have no friends:
I make my mind my friend.

I have no enemy:
I make carelessness my enemy.

I have no armor:
I make benevolence and righteousness my armor.

I have no castle:
I make immovable mind my castle.

I have no sword:
I make absence of self my sword.

Condução...


Em um dia desses, em que saímos de casa de mal com a vida, e mal com todos que estão ao nosso redor, tudo pode acontecer. Sabe quando estamos somente esperando uma oportunidade, como se diz no ditado popular – de soltar os cachorros em alguém mesmo sem ter motivos? Somente os nossos motivos?

Eu estava em um ônibus na cidade onde moro.
Dentro deste ônibus havia todo tipo de pessoas, alegres, tristes, mal intencionadas, viciados, pessoas tentando se matar e pessoas doentes.
Eu acredito que se pudéssemos reunir e materializar nossos pensamentos, naquele ônibus, o inferno seria um lugar bonito.

Eu observava cada uma das pessoas como sempre faço. Gosto de observar pessoas.
E no percurso que eu fazia ouvi muitas coisas.
À minha frente duas mulheres conversavam de suas vidas, e também das de outras pessoas. Falavam coisas como “eu queria sumir”, “eu queria morrer” e a outra também concordava e falava a mesma coisa. Revoltadas com o casamento triste, com os filhos, e frustradas com a sua situação financeira.

Ao meu lado um rapaz tentava se esconder, ou esconder o que ele tinha nas mãos: um tipo de droga, uma droga qualquer, um tipo de sintético.
Fiz de conta que não vi, mas percebia que ele estava morrendo, pois seu rosto passava isso. Observava que, ao mesmo tempo, queria viver, porque pedia isso através do seu olhar.

No banco ao lado, uma menina chorava com seu filho ao colo.
Parecia um filho indesejado como muitos que eu já ouvira algumas mães dizer.
E, ela falava, sozinha, coisas como “o que eu vou fazer com você”.
E, a criança chorava muito.

Eu percebia que estava em um verdadeiro inferno. E, na verdade, eu estava.

Desprotegido, a minha mente também estava atribulada naquele momento.
Eu reclamava comigo mesmo:

_Poxa, que droga um ônibus lotado, pessoas se odiando aqui dentro e lá fora está chovendo ainda para piorar as coisas!

E, naquele momento, quem queria morrer era eu.
Dívidas, família desunida, vícios, e uma vida sentimental incompleta. Na verdade, eu estava na condução dos condenados, dos suicidas, porque todos queriam morrer.

De repente, um rapaz entra em desespero dentro do ônibus.
Acho que aquele ar negativo o incomodava. Ele começou a se debater e a gritar.
E, uma mulher o acalmava. Na verdade eram duas, porque uma que não era sua mãe o acariciava e, a outra, o criticava, o xingava coisas como “você só me faz passar vergonha” e, “o que eu fiz para merecer isso?”

De repente, o ônibus ficou em silêncio.

Este rapaz estava com um uniforme, um desses de escolas especiais que dizia ser de um lugar para crianças com câncer.
Eu, na mesma hora, senti vontade de chorar e as pessoas me observavam.

Eu me levantei e fui até a moca que o acariciava. O rapaz devia ter a minha idade.
Sua mãe me falou:

_ Você não precisa ter pena dele, que ele é normal.
E eu respondi: _Concordo com a senhora.
E pensava comigo mesmo que, quem não era normal era eu mesmo.

Então, perguntei pra a moça se ela queria ajuda. Ela respondeu que não, e que ele estava bem. E continuou:
 _ Apenas está chovendo muito e ele quer abrir a janela. Eu não posso deixar, porque a imunidade dele está baixa.

E o rapaz perguntou, me estendendo a mão:
_Qual o seu nome?
Eu disse a ele meu nome, e o ônibus inteiro ficou mudo.
Apenas algumas pessoas sussurravam: _Que dó desse menino...

Pareceu que, nessa hora, todas as pessoas que estavam naquela condução dos condenados comigo passaram a ter sentimentos.

E o rapaz disse:

_Como você é?
Eu lhe respondi dizendo medidas, cor, peso, idade e do que eu gostava.

Então, ele acrescentou: _ Parabéns, você é um homem perfeito!
Eu sorri dizendo obrigado, agradecendo, mas chorando internamente porque eu não era perfeito, e não passava de uma mentira exterior. Mas lhe afirmei:

 _ Você também é perfeito.

Ele me aconselhou:

_Aproveite e agradeça o que Deus te deu, a saúde.

Perguntei, então: _Por que você me fala isso?
Então, ele começou a chorar e a sua professora também. Sua mãe só balançava a cabeça. Então, ele disse, com sua voz baixa e cheia de lágrimas:

_Abra a janela do ônibus, por favor...

E o ônibus me olhava. Eu estava com medo e vergonha porque não seria a pessoa certa para fazer aquilo. Ele era tão bom e eu tão ao contrário dele, querendo até mesmo pedir a morte pelo dia ruim, ainda reclamando da chuva que eu maldizia.

E ele insistia, tristemente: _Abre...
Então, perguntei o por quê. E ele respondeu:

_Tenho meus dias de vida contados, eu queria tanto viver mais, queria tanto poder ver o que vocês veem, queria tanto sentir o que vocês conseguem sentir...

Ele chorou e pediu “por favor”, à sua mãe e à dona Rose, que era sua professora.

_Já que eu não posso ver, me deixe pelo menos sentir a chuva lá fora tocar meu rosto. O que eu mais queria era poder ver a chuva cair, sentir a chuva em mim, e poder ver meu corpo molhado pelas lágrimas de Deus, banhando o corpo de seu filho que ama a vida, e lhe agradece por ela.

E a janela do ônibus foi aberta.
Creio que as de nossos corações, naquela hora mudos, também.

Eu chorei, como chorei..
Só então eu percebi que quem era cego e doente, era eu mesmo...
Eu que não percebia a importância que tinha minha vida tão criticada por mim mesmo, tendo saúde, pessoas que amo, e que estão a meu lado e me amam também.
Eu que tinha tudo para seguir enfrentando a vida, passei a me ver diferente...
Neste exato momento eu sorri.
Coloquei a minha cabeça junto a dele para fora da janela.
A chuva lavava nosso rosto, curando a minha cegueira e tristeza dele.

E, desde aquele dia, eu nunca mais peguei uma condução para o inferno.
Continuo andando de ônibus mas, agora, me levam sempre a novas descobertas.

Hoje, agradeço a Deus todos os dias por tudo o que Ele me dá, e até nas coisas ruins eu dou risada, porque nada mais pode me abalar.
Eu aprendi que posso sentir esta força dentro de mim do mesmo jeito que aquele rapaz queria sentir a chuva.

Obrigado por Deus ter me dado a oportunidade de conhecer aquele rapaz.

E você? Até quando viajará neste ônibus a caminho do inferno com as suas reclamações? Acorde, desperte, faça este pesadelo se tornar um sonho, porque além de sentir, você vai poder ver o seu sonho acontecer.


Um abraço do Macaco4ever...


O Macaco disse: seja original e escreva o seu próprio texto, mas se copiar, cite a fonte:
http://bubakatana.blogspot.com/2010/08/conducao.html

Reproduzido da primeira postagem Condução em 28/08/2010

Eu tenho lutado para ser livre...


Liberdade e vida

A liberdade é o aspecto mais importante da vida. Através dela pode-se expressar o que se é para uma vida plena e feliz a cada segundo em que se vive. A alegria e felicidade só podem vir da verdadeira liberdade da expressão do ser. E nesta expressão a realização do papel e missão natural à qual fomos destinados pela natureza.

Eu chorei, mas não desejo que os demais chorem; mas se o fizerem, agora sei o que isso significa. (…) É preciso que se libertem, não por minha causa, mas apesar de mim. Toda esta vida e, especialmente nos últimos meses, tenho lutado para ser livre – livre de meus amigos, dos meus livros, de minhas associações.

Vocês devem lutar pela mesma liberdade. Deve haver uma constante inquietação interior. Segurem um espelho constantemente à sua frente. Se houver algo indigno do ideal que criaram para si mesmos, mudem-no. Não façam de mim uma autoridade. Se eu me tornar uma necessidade para vocês, o que farão quando eu partir?

Alguns de vocês acreditam que eu possa lhes dar uma bebida que os tornará livres, que posso lhes dar uma fórmula que os libertará – mas não é assim. Eu posso ser a porta, mas vocês devem passar por ela e encontrar a libertação que está além dela… A verdade chega como um ladrão – quando menos se espera por ela.

Gostaria de poder inventar uma nova língua; como não posso, gostaria de destruir a velha fraseologia e antigos conceitos. Ninguém pode lhes dar a libertação. Terão de encontrá-la dentro de si, mas porque eu a encontrei, eu lhes mostrarei o caminho… Aquele que atingiu a libertação tornou-se um instrutor.

Cada um de vocês têm o poder de entrar na chama, de se tornarem a própria chama… Porque eu estou aqui, se me tiverem em seus corações, eu lhes darei a força para alcançá-la. A libertação não se destina aos poucos, aos escolhidos, aos eleitos.

Jiddu Krishnamurti
(1895/1986)

Reproduzido de O Agora

Seremos palavra e homem...


Silêncio e Palavra
Thiago de Melo

I

A couraça das palavras
protege o nosso silêncio
e esconde aquilo que somos

Que importa falarmos tanto?
Apenas repetiremos.

Ademais, nem são palavras.
Sons vazios de mensagem,
são como a fria mortalha
do cotidiano morto.
Como pássaros cansados,
que não encontraram pouso
certamente tombarão.

Muitos verões se sucedem:
o tempo madura os frutos,
branqueia nossos cabelos.
Mas o homem noturno espera
a aurora da nossa boca.

II

Se mãos estranhas romperem
a veste que nos esconde,
acharão uma verdade
em forma não revelável.
(E os homens têm olhos sujos,
não podem ver através.)

Mas um dia chegará
em que a oferenda dos deuses,
dada em forma de silêncio,
em palavra transfaremos.

E se porventura a dermos
ao mundo, tal como a flor
que se oferta - humilde e pura - ,
teremos então cumprido
a missão que é dada ao poeta.
E como são onda e mar,
seremos palavra e homem.