O verdadeiro espírito do guerreiro da Katana


Corte perfeito! Mito ou realidade?

Muito se tem comentado sobre a perfeição do corte realizado quando a espada percorre os caminhos desenhados pelos guerreiros. Mito ou verdade o que não devemos deixar de analisar é o aprendizado que estas histórias trazem a nossa vida.

Em uma exploração superficial, sabemos que o perfeito depende de muitos fatores internos e externos para se concretizar ou não. Alguns podem em alguns segundos estar em comunhão com a vida que o rodeia, apenas por entender o que chegou a sua existência, é um tipo de perfeição e disso não podemos fazer qualquer crítica.

Para outros a perfeição está além, muito além das capacidades humanas. Perfeição está ligada com o divino, o superior, sendo assim, então na condição de humanos somos apenas admiradores de algo além de nossas capacidades.

Lutar para superar o impossível é uma tarefa diária que qualquer um de nós faz no decorrer da vida.

Mas o que dizer das artes de guerra, que são ensinadas e repassadas para nossos pupilos nas escolas de artes marciais. Qual é realmente o objetivo?

Não acredito que a intenção era, ou é, de regredir o discípulo em uma máquina pronta a reagir por estímulo.

Os grandes mestres entendiam que, antes de se puxar a espada como última escolha, havia todo um processo de complexas análises de causa e conseqüência, as quais chamaram de karma.

Entender esta responsabilidade não é para todos. Poucos são aqueles que realmente sabem a verdadeira extensão de seus atos, e raríssimos os que assumem. Não duvide disto.

Se não acreditar, então, é só se lembrar o quanto afiada foi a sua língua quando desferiu um desafeto àquele de quem não gostava.

Destruindo com golpes vergonhosamente perfeitos a vida alheia e, pior, sabendo que não poderia consertar o estrago feito, coloca-se na posição de arrependido, esperando o perdão insinuando que não sabia. Me desculpe, jogando a responsabilidade de perdoar para o ofendido.

Entenda que o perfeito não quer dizer o bem. Às vezes, e muitas das vezes, querem apenas dizer que foi bem realizado.

Os que compreenderam o verdadeiro espírito do guerreiro, entendem que a katana jamais deverá deixar a saya e, se isso acontecer, saber que mesmo cumprindo o seu destino deverá assumir também seu karma.

O corte perfeito almejado pelos mestres nunca foi o da katana posta ao lado da cintura, mas o aguçado senso crítico, ensinado no decorrer da vida e caminhos, que extirpam de nosso ser todas as qualidades inferiores que insistimos em carregar.

"Dê-me uma fornalha, água, metal e em algumas luas eu porei em sua mão uma espada perfeita."

"Forneça-me homens e mestres para educá-los e, talvez em milhares de luas não apareça um guerreiro digno de pousar as mãos sobre a espada que te entreguei."

Giovanni Nunes


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Ame Agaru (Depois da chuva) . 1999

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